Capítulo 4/6
Escrito por : Júlio Gralha
Os mitos representavam necessidades e anseios dos homens e mulheres dessa sociedade. Um dos mitos mais importantes e antigos relativo à criação é o da cidade de Heliópolis, cujo nome em egípcio antigo é Wn, Annu ou Iunnu.
Durante o Antigo Império (2.575 - 2.134 a.C.) tornou-se o principal centro religioso e sede do culto solar, sobretudo da 4ª. à 6ª. dinastias, época da construção das pirâmides de Queóps, Quefren, Miquerinos, Unas, Pepi e Teti.
O prestígio do culto solar foi tal que um dos cinco títulos básicos do faraó, de "Filho de Ra" (sa-Ra), pode ter surgido nesse período.
Referências a esse mito podem ser encontradas nos Textos das Pirâmides no papiro Bremner- Rhind e no livro da Vaca celeste. Estes dois últimos talvez sejam a melhor maneira de conhecê-lo, apesar da forma truncada da narrativa. De um modo geral, podemos contar o mito da seguinte maneira:
No princípio era o Nu (Num), o oceano celestial com sua característica de imobilidade e totalmente estático - a visão do caos na concepção egípcia.
Deus Atum
Do seu interior emergiu o deus Atum auto-gerado (não confundir com Aton, que surgiria na 18ª. dinastia e representa o disco solar). Uma vez emerso do Num, a primeira porção de terra também emergiu para acolher o deus. Tal porção de terra era identificada por uma forma piramidal, freqüentemente associada a um obelisco.
Segundo George Hart, no livro Mitos egípcios, "este outeiro primitivo tornou-se formalizado como benben (bnbn), uma elevação piramidal firme para sustentar o deus Sol; as relíquias reais de pedra, talvez consideradas como o sêmen petrificado de Atum, eram citadas como sobrevivente no ewet-benben (hwt-bnbn), a Mansão do benben", ou a Mansão da pedra benben.
O benben pode ser interpretado como o raio de Sol petrificado e não necessariamente o sêmen. Uma vez sustentado, o deus Atum inicia o processo de criação dos deuses, por atos oriundos da fala ou da boca. (Em outras variantes, essa criação foi produzida pela masturbação do deus. Há uma outra, ainda, que relata a união do deus Atum com sua sombra (kaibit). Uma vez auto-gerado, o deus Atum expeliu o deus Shu e cuspiu a deusa Tefnut, estabelecendo a primeira tríade.
O Deus Atum e Shu
Shu representava o ar, a atmosfera entre outros atributos (esse deus pode aparecer com o atributo da luz solar segundo outros textos).
Tefhut representava a umidade do céu. A partir desse ponto, o casal Shu-Tefnut continuou a criação gerando o casal Geb (terra) e Nut (céu).
Atum não tomou mais parte na criação, a não ser para gerar, de suas lágrimas, a raça humana. O deus Geb possuía um caráter masculino, ao contrário de muitas sociedades antigas que estabelecem uma relação feminina com a terra — "a mãe terra".
A deusa Nut, por outro lado, representava o céu no qual estrelas, planetas e outros deuses estão presentes.
A barca de Ra navegava 12 horas por dia no seu corpo e tal jornada tinha início no seu ventre, situado no leste, e terminava aparentemente na sua boca, no crepúsculo no oeste.
Em seguida, uma nova fase foi levada a efeito com a geração dos quatro filhos do casal Geb e Nut: Isis
Osíris e Isis
Osíris, que se tornaria rei do mundo inferior,
Ísis, a senhora do trono;
Seth, representando forças caóticas da natureza,
Néfits, a senhora do castelo.
Um aspecto importante nessa fase da criação é o papel de Osíris e Seth, que representavam uma certa dualidade de princípios na forma masculina. Assim, temos a terra fértil e estéril, o vale do Nilo e o deserto, luz e trevas, ordem e caos, Osíris e Seth.
Ísis representa o aspecto materno, a grande maga e consorte de Osíris. Ela é a senhora do trono (trono de Osíris ou do Egito). Néftis é a senhora do castelo ou mansão — Nebt-het. Esse castelo pode ser entendido como um lugar no firmamento e a casa de Hórus.
Assim, os deuses Atum (ou Ra, o deus Sol), Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Ísis, Seth e Néftis formaram a enéada de Heliópolis. Ou seja, os nove deuses da criação.
Aos deuses é agregado Hórus ou Heru, que representava o faraó ou a própria raça humana.
Horus
Horus e Set
A criação da natureza ocorreu em algum ponto das quatro fases da criação. Assim, a espécie humana — criada a partir das lágrimas de Atum-Ra — passou por um processo diferente do mundo natural.
Fonte : As religiões que o mundo esqueceu – Pedro Paulo Funari e outros autores, editora Contexto
Imagens : Google
Amei o seu blog!!!! Que incrível!!! As trilhas sonoras são mágicas!! Amei!!!! Para quem gosta de História Antiga e trilhas sonoras épicas, como eu, é demais!!!
ResponderExcluirParabéns!